Minas Gerais, infelizmente, tem se destacado nos últimos anos no cenário nacional da violência contra as mulheres. Em Itabirito, essa realidade não é diferente. Em matéria publicada pelo Jornal O Tempo, de 20 de setembro de 2018, já podíamos nos dar conta do tamanho do problema que enfrentamos cotidianamente. Na ocasião, a matéria trazia como chamada o fato de que as ações de violência contra as mulheres na cidade já somavam mais de 70% de todas as ações civis, somando os cinco anos anteriores à data da publicação da matéria.
Passados três anos, não podemos dizer que essa realidade mudou. Ao contrário, tem feito cada vez mais vítimas na nossa cidade. Desta vez foi Cléria Aparecida, de 44 anos, trabalhadora, assassinada de forma covarde por seu cunhado. Segue o depoimento de uma amiga sobre quem era Cléria e a forma brutal como foi assassinada:
“Conheci Cléria em 2009 no curso de Enfermagem, ela sempre foi uma mulher calma, companheira, gente fina e do bem; ela morava com irmã e o cunhado autor do crime. Tempos depois nos reencontramos e retomamos contato. Ela desapareceu na segunda-feira, em 22 de março, saiu de casa para trabalhar, porém não chegou até o carro da empresa onde era combinado. No início suspeitamos de suicídio. Dias depois encontraram o corpo. Após autópsia foi constatado que ela foi assassinada; Cléria foi brutalmente agredida antes de morrer e provavelmente estuprada, teve 12 costelas fraturadas, olhos vendados, mãos amarradas por fita e sua boca também vedada, o que os médicos acreditam ter sido a causa da morte por sufocamento. Ele matou ela em casa e a levou para um local ermo. Levou 12 dias para que encontrassem o corpo dela, o que mais me indigna é o cunhado ter voltado no mínimo duas vezes no local do crime, além disso tudo ele participou das investigações, ajudou a procurá-la e até participou do enterro. A desconfiança surgiu porque o autor do crime se contradisse no seu depoimento. Ao puxar a ficha do suspeito foi descoberto o envolvimento em um caso estupro em Ouro Preto na ficha dele, o fato era de desconhecimento de todos. Para que o autor não fugisse, a família permaneceu em segredo sobre a suspeita do cunhado, ele ainda dormiu na casa da família de Cléria, ao lado da sua esposa. Após o enterro, o acusado recebeu a ordem de prisão e confessou o crime. O estupro ainda não foi confirmado, mas eu acredito que sim pelo fato dela já ter noticiado que o cunhado já deu em cima dela. O cunhado alega legítima defesa porque Cléria pegou uma chave de fenda para bater nele, disse também que na hora da briga ele caiu em cima dela por isso às 12 costelas quebradas, o que pra mim não encaixa, por já conhecer Cléria e o seu histórico de vida’’
É de causar indignação e desalento o relato acima, o qual mantivemos o nome em segredo por questões de segurança.
Mais ainda, indigna saber que, nesse momento de pandemia, essa violência cresceu no mundo todo e, no Brasil também; só em março do ano passado, ainda no primeiro mês de isolamento no país, as denúncias cresceram em média 50%. Hoje, passado um ano, o dado triste que temos é que uma de nós foi assassinada a cada 9h nesse período.
Indira Xavier, coordenadora da Casa de Referência às Mulheres Tina Martins, situada em Belo Horizonte enfatiza indignada: "Não são dados estatísticos, estamos falando de vidas! Vivemos em um país que amarga o fato de ser o quinto que mais mata mulheres pelo simples fato de ser mulher. Não dá pra não responsabilizar os governos em seus distintos âmbitos, primeiro porque não se aplica uma política efetiva de combate a violência e reeducação dos agressores; segundo porque não se assegura nem as políticas públicas nem o financiamento necessários para fazer enfrentamento a essa guerra que o machismo trava contra nós cotidianamente. É urgente! Precisamos de mais Casas de Referências para atender Mulheres, Abrigos, Delegacias Especializadas, tudo isso associado a uma política permanente de geração de emprego e renda, de habitação, de acesso à educação e tudo mais que promova e estimule a autonomia das mulheres.”
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