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EDITORIAL l Camarada Braz: presente!

Matéria do Jornal A Verdade por: Renato Campos e Fernando Alves


EXEMPLO. Braz durante o 1º Congresso Nacional da UP, em 2019, em Belo Horizonte (Foto: JAV/MG)

BELO HORIZONTE – Nessa madrugada de 5 de abril faleceu, em Belo Horizonte, o camarada Braz Teixeira da Cruz, 82 anos. O “comandante”, como era carinhosamente chamado por seus companheiros, foi mais uma das milhares de vítimas da Covid-19 e do descaso dos governos burgueses com a vida humana no Brasil. Em março passado havia tomado a primeira dose da vacina e a segunda dose estava marcada para acontecer apenas em junho próximo.

Braz nasceu em Itaúna, Minas Gerais, em 1939. Tendo uma infância muito pobre, Braz conseguiu com o suor do seu trabalho de engraxate sobreviver e iniciar seus estudos em Belo Horizonte. Ainda nos anos finais da escola primária teve seu primeiro contato com as lutas sociais que se desenvolviam no Brasil e no mundo. Aos 20 anos, organizou atos internacionalistas para saldar a Revolução Cubana e ingressou no PCB. Durante os que antecederam o golpe, Braz atuou no movimento estudantil, participando de manifestações antifascistas e pelo direito ao passe estudantil.


Em 1962, Braz vai para o PCdoB, onde atua diretamente na distribuição do jornal A Classe Operária. Depois do golpe de 1964, Braz entende a necessidade da luta armada e se torna um guerrilheiro urbano, passando a militar na Corrente Revolucionária, dissidência do PCB que passou a fazer contato com Carlos Marighella. Assim, a Corrente era a expressão da ALN (Ação Libertadora Nacional) em Minas Gerais.

O camarada Braz atuou com decisão contra a Ditadura Militar. Passou por duas prisões e várias sessões de tortura. Braz foi solto no início de 1970. Passou o pão que o diabo amassou, mas nunca perdeu sua perspectiva revolucionária e nem deixou de militar pela revolução e o socialismo. Sempre contava as histórias de luta com seus camaradas Lincoln West, Pedro Pomar, Hélcio Pereira Fortes (de quem foi muito próximo), Carlos Marighella e outros

As torturas deixaram sequelas profundas. Depois de muito tratamento, Braz, que já tinha vencido as torturas no Presídio Tiradentes, venceu as sequelas físicas das barbaridades que sofreu.

Braz, o “comandante”: exemplo de companheirismo e firmeza revolucionária (Foto: JAV/MG)


Perseguição política, prisões e a greve de Contagem em 1968


Sua primeira prisão ocorreu durante uma panfletagem na portaria da fábrica Mannesman, onde trabalhava. Depois que saiu da prisão, ingressou na luta armada e atuou na região industrial de Contagem. Entre as ações que participou, Braz relatou em vários momentos a rica experiência dos comícios relâmpagos, das panfletagens e organização dos operários nas fábricas da região, em especial, da sua atuação na histórica greve de Contagem, em 1968. Esse episódio marca uma das principais lutas operárias no Brasil durante a ditadura.

Outra prisão que deixou marcas profundas na vida do camarada Braz aconteceu na cidade de Divinópolis, onde passou a morar por causa do aumento da repressão após a greve de Contagem. Quando mudou-se para a cidade com sua mulher e seus quatro filhos, montou um pequeno comércio, a “PC Condimentos”, que produzia temperos artesanais. Um certo dia, homens em carros com placas de São Paulo e documentos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) foram até sua casa, aparentemente interessados na produção da “PC Condimentos”. Tratava-se apenas de um disfarce para sequestrá-lo e realizar um doloroso processo de torturas físicas e psicológicas, chegando ao máximo do terror quando torturaram sua mulher grávida, causando a perda do bebê. Mesmo com toda essas dificuldades, Braz manteve a firmeza e a decisão de seguir lutando.


PCR: reencontro com os ideais revolucionários


Em 2010, conhece o Partido Comunista Revolucionário (PCR) numa brigada do jornal A Verdade e passa a integrar suas fileiras, sempre defendendo a necessidade da defesa do socialismo sem vacilações e conciliações. Fazia várias palestras, participava de debates e apesar de todo o sofrimento que teve ao longo da vida, sempre demonstrava grande felicidade e sentimento de camaradagem.

Em audiência da Comissão Nacional de Anistia e Comissão Nacional da Verdade, realizada em Belo Horizonte, na Faculdade Dom Helder Câmara, no dia 12 de maio de 2014, Braz Teixeira da Cruz, militante comunista histórico, foi finalmente anistiado, tendo recebido o perdão do Estado brasileiro por todos os crimes praticados contra ele pela Ditadura Militar fascista. Para tanto, contou com total apoio do Partido e do advogado Élcio Pacheco.

Sobre isso Braz disse: “Quem resgatou minha militância foi o Partido Comunista Revolucionário (PCR), com o apoio do dr. Élcio Pacheco. Só aí entramos com um processo junto à União para que eu fosse anistiado. Pela primeira vez, me senti mais confiante com essa Comissão, por tudo que vi acontecendo naquela audiência. Até me deu vontade de chorar quando ouvi dizerem: ‘Senhor Braz Teixeira da Cruz, em nome do Estado brasileiro, a comissão aqui presente pede perdão ao senhor e o consideramos anistiado pela sua luta de resistência ao golpe militar de 1964’. Me senti mais forte para continuar minha luta pela vitória do socialismo, resgatei minha cidadania e minha dignidade”.

Braz teve sete filhos, mais de 20 netos e um legado de lutas, de convicção na vitória do socialismo e de um mundo livre da exploração capitalista, além de ser um enorme exemplo de disciplina, combatividade e abnegação para seus camaradas. Braz é um dos imprescindíveis que Brecht cita em seu poema. Uma vida inteira de lutas!

Seu exemplo permanecerá para sempre na luta de nosso povo até depois da vitória final!

Camarada Braz Teixeira da Cruz: presente! Agora e sempre!

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