top of page
tribunapopularita

Após dois anos de pandemia, Secretário de Saúde de Itabirito ainda não sabe lidar com a Covid-19

Atualizado: 28 de jan. de 2022

Falta de testes, protocolos ineficazes (e contrários ao Ministério da Saúde) e curto período de isolamento ainda são realidade para a população itabiritense.

Foto: Frauke Riether/Pixabay

A nova fase da pandemia tem refletido alguns problemas semelhantes e recorrentes. Com a nova variante, a Ômicron, a escassez de uma das principais ferramentas de combate chama a atenção negativamente. Em Itabirito há falta de testes rápidos para a população.


Mesmo com as mais variadas recomendações — da Organização Mundial da Saúde e de profissionais com conhecimento técnico, sempre indicando a testagem em massa —, Itabirito (em ano de arrecadação recorde!) pouco investiu neste quesito.


A dura realidade de falta de testagem em massa reflete as prioridades do governo municipal. O Prefeito Orlando, juntamente ao Secretário de Saúde Marco Antônio Félix e o infectologista Marcelo Campos precisam ser cobrados por isso. Com as vultosas licitações para uma empresa de segurança privada como prioridade no combate a pandemia, o governo Orlando segue sua cartilha de “gastos indevidos”.


Em depoimento, uma moradora do bairro Tombadouro — que preferiu não se identificar — relatou sobre a dificuldade que a mãe enfrentou na UBS Vila Gonçalo: “Minha mãe começou a ter alguns sintomas, ficou muito rouca por cerca de três dias, depois teve dor de garganta e febre. Então, no quarto dia, foi até a UBS da Vila Gonçalo. Lá, ela passou pela médica e recebeu a explicação que os sintomas de Covid-19 e gripe estavam sendo bem semelhantes e que a testagem não seria realizada em pacientes que não estavam com sintomas graves ou em situação de risco, porque não existem testes pra todo mundo, e que mesmo a rede privada não estava suprindo essa demanda.”


A entrevistada ainda destaca: “Não fomos realizar o teste particular, pois era muito caro: 120 reais. A médica receitou alguns remédios e pediu que minha mãe permanecesse em casa, em isolamento. Meu pai e eu não tivemos sintomas, mas a experiência foi essa.”


De acordo com nota oficial da PMI, “o município tem testado cerca de 170 pessoas sintomáticas por dia, deixando de testar assintomáticos com base em indicações do Ministério da Saúde”. Ou seja, apenas 0,3% da população itabiritense consegue realizar testes diariamente. Deixar de testar assintomáticos não é uma recomendação do Ministério da Saúde. O órgão federal indica claramente a utilização de testes para estes indivíduos. Em Itabirito, além dos assintomáticos, pessoas com sintomas leves também não estão sendo testadas porque a prioridade tem sido “testar casos graves”.


As orientações da necessidade de ampla aplicação de testes estão presentes no Plano Nacional de Expansão da Testagem para Covid-19, publicado no segundo semestre de 2021. Vejamos: “Para além da utilização de testes laboratoriais para o diagnóstico da infecção por SARS-CoV-2 em pessoas sintomáticas, seja para diagnóstico assistencial ou para investigação de surtos, o Ministério da Saúde cria o PNE-Teste com uso de teste rápido de antígeno (TR-AG) em larga escala e inclui a testagem de indivíduos assintomáticos. Dessa forma, incorpora-se o teste rápido (TR-AG) para pessoas sintomáticas e assintomáticas na ação TESTA BRASIL.” (Fonte: Plano Nacional de Expansão da Testagem para Covid-19, Ministério da Saúde).


Problema antigo


Lembremos que, em fevereiro de 2021, a Tribuna Popular denunciou a falta de testes na cidade, enquanto 30 milhões de reais foram gastos com asfalto. Passado um ano da denúncia, e quase dois anos de pandemia, é possível perceber que, para o governo Orlando, a saúde definitivamente não é uma prioridade da gestão. Tal postura evidencia o projeto de desprezo pela vida, e de subestimação da “gripezinha” (como dito por Bolsonaro) que já retirou a vida de mais de 620 mil pessoas em todo o país e 163 em Itabirito.


Vale ressaltar, ainda, que a não realização da testagem em massa, para além de interferir na investigação de novos surtos de contaminação — fundamental para definir protocolos coerentes na região e no país como um todo — é, na verdade, a tentativa de gerar uma sensação de normalidade no município, escondendo casos positivos para amenizar os boletins diários. Assim, a cidade pode prosseguir a todo vapor com suas atividades lucrativas, já que a vida foi banalizada diante do vírus e do capital.


Circulação de nota gera confusão entre servidores da UPA


Mas as falhas da gestão não ficam apenas no campo dos testes. Desde o último dia 20 de janeiro (quinta-feira), tem circulado uma informação entre os profissionais da UPA de Itabirito com o seguinte título “NOTA TÉCNICA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE DE 20 DE JANEIRO DE 2022”. O informe contém recomendações problemáticas sobre o tempo de atestados para afastamento do trabalho por sintomas respiratórios e Covid-19.


Como o texto foi divulgado, solicitamos à prefeitura uma confirmação de qual seria a sua autoria. Tal ratificação veio nas informações de Nota Oficial da Prefeitura de Itabirito, quando afirma: “Tais protocolos foram reforçados por meio de Nota Técnica divulgada pela Vigilância em Saúde no último dia 20 de janeiro. O documento foi elaborado pela equipe de Vigilância Epidemiológica, em conjunto com servidores da Unidade de Pronto Atendimento – UPA, Unidades Básicas de Saúde – UBS e do Centro Covid-19 com base em diretrizes do Ministério da Saúde, da SES e em referências bibliográficas.”


Além de encontrar algumas “flexibilizações” nas orientações do Ministério da Saúde do governo bolsonarista (órgão federal) em relação às recomendações da OMS (órgão internacional), percebemos que as recomendações vindas da gerência da Vigilância do Município de Itabirito são ainda mais “frouxas’. Não é à toa que algumas informações da nota causaram espanto nos trabalhadores e trabalhadoras da UPA Itabirito.


No geral, os dias de isolamento e afastamento do trabalho indicados pela gestão Orlando são menores que os indicados pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Por exemplo, segundo o Ministério da Saúde: “O isolamento deverá ser feito por 7 dias, desde que não apresente sintomas respiratórios e febre, há pelo menos 24 horas e sem o uso de antitérmicos.” Já a gestão da saúde de Itabirito está indicando apenas 05 (cinco) dias. O município também indica recomendações que desconsideram algumas medidas essenciais para conter o vírus.


As seguintes recomendações da gestão Orlando são as que mais preocupam: “Se ainda tem sintomas, mantém afastado até completar sete dias, com orientação de alta ao final, exceto se não tiver condições de trabalhar, por sintomas intensos ou incompatíveis com uso de máscaras.” Ou seja, os gestores da saúde em Itabirito estão recomendando que as pessoas voltem ao trabalho mesmo se tiverem sintomas leves! Sendo que mesmo a já preocupante recomendação do Ministério da Saúde indica minimamente que: “Para aqueles que no 7º dia ainda apresentem sintomas, é obrigatória a realização da testagem. Caso o resultado seja negativo, a pessoa deverá aguardar 24 horas sem sintomas respiratórios e febre, e sem o uso de antitérmico, para sair do isolamento. Com o diagnóstico positivo, deverá ser mantido o isolamento por pelo menos 10 dias contados a partir do início dos sintomas, sendo liberado do isolamento desde que não apresente sintomas respiratórios e febre, e sem o uso de antitérmico, há pelo menos 24h.”


Outro absurdo da nota é que em nenhum momento a recomendação da gestão da saúde de Orlando indica a necessidade de testagem negativa para fim do isolamento ou retorno ao trabalho.


Desta forma, é fundamental esclarecer que dentre as principais medidas, comprovadamente com eficiência biológica e social, está a ampla testagem da população de forma constante. Os municípios têm autonomia suficiente para fazer investimentos para compra de testes e assim garantir maior controle da situação. Porém, uma medida assim significaria investimento público para atender os profissionais da saúde do município como eles deveriam, bem como apresentar maior consideração aos demais usuários da UPA Itabirito.


Em ano de recorde na arrecadação municipal, é fundamental que o Secretário de Saúde de Itabirito, Marco Antônio Félix, seja o primeiro a nos responder a principal questão: por que não há um investimento sério em testagem em nossa cidade? Por que apenas quem tem dinheiro (120 reais) consegue testar se tem Covid-19 ou não?


Assim como em âmbito federal, onde se instaurou uma CPI para apurar crimes e omissões do governo genocida de Bolsonaro, é fundamental que os vereadores criem uma CPI séria, em nível municipal, para apurar os absurdos constantes na gestão da saúde de Itabirito durante a pandemia.

686 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page