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A negação do acesso à região rural de Itabirito

Por Bella Mayrink e Sam Souza


Não é de hoje que a população itabiritense convive com um transporte público precarizado. Entra governo e sai governo e nenhum, há tantos anos, consegue fornecer um transporte público digno, que cumpra suas funções, sendo bom, barato e acessível à população. Durante a pandemia de Covid-19 essa realidade piorou significativamente com o corte de horários, rotas que não atendem ao fluxo necessário e horas gastas de espera em “ponto final” de rota.


E se na área urbana já está difícil, mais dificultado está para quem mora em regiões mais afastadas, como São Gonçalo do Bação, Macedo, Mangue Seco, Acuruí e Marzagão. Neste espaço queremos tratar sobre a região específica de São Gonçalo do Bação e adjacências.





O ônibus, que já era precário, passava por São Gonçalo do Bação de segunda-feira a sexta-feira apenas em três horários, sendo eles: 6h, 13h e 19h30, saindo de Itabirito às 5h, 12h e 18h15, respectivamente. No horário da manhã e da noite, o ônibus fazia sua rota completa, contemplando os bairros da região, porém às terças-feiras e quintas-feiras ele não completava a rota, deixando de contemplar o bairro Macedo, local onde residem muitas pessoas idosas e mulheres com crianças.


Ou seja, se você fosse ao centro às 6h da manhã teria que esperar o ônibus que retornaria somente às 12h e, caso fosse morador do bairro Macedo, deveria esperar até as 18h15, chegando em casa tarde da noite. Aos finais de semana e feriados, o ônibus só passava de manhã e à noite. Além dessa precarização do serviço fornecido à população, o valor cobrado por passageiro era de R$5,40.


Na pandemia, com o discurso de cumprir o isolamento social, a situação ficou ainda mais preocupante para os moradores da região. A Prefeitura de Itabirito retirou praticamente os ônibus, pois está passando apenas na segunda-feira e na sexta-feira, nos três horários do dia. Com a diminuição do transporte, como uma política de morte adotada pela Prefeitura de Itabirito, houve um aumento de pessoas que precisavam ir à sede do município e concentraram-se no mesmo dia.


Dessa forma, passou a haver uma maior aglomeração dos moradores dentro dos ônibus. Além disso, eles ficam à mercê de retornarem horas depois, se expondo mais ainda ao coronavírus, tendo que permanecer no centro, mesmo sem atividade, por longas horas. Houve um momento durante a pandemia que não tinha ônibus nenhum rodando por essa região. É um verdadeiro descaso para com a população que, assim como todos os cidadãos itabiritenses que moram em regiões próximas ao centro, têm direito de um transporte público de qualidade e necessitam do mesmo para ter acesso a inúmeros serviços na sede do município, até mesmo os básicos, como fazer uma compra em supermercado ou acessar serviços de saúde!


SÓ O POVO SALVA O POVO


Diante dessa realidade, Simone, moradora da região, que já trabalhava com uma van de 15 lugares, começou a rodar de forma autônoma na região. Simone saía de São Gonçalo do Bação às 8h, passava pelos demais bairros da região e chegava em Itabirito às 9h, com retorno marcado para 12h. Ela fazia essa rota três vezes na semana e cobrava menos que o transporte fornecido pela prefeitura, sendo o valor de 10 reais por passageiro, para ida e volta.


Pouco depois que começaram a vacinar as pessoas, Simone conseguiu também um micro-ônibus e às vezes o marido fazia as corridas, até que alguns empregos voltaram para o formato presencial e ela adicionou mais dois horários por dia, passando de segunda-feira a sexta-feira. Porém, com esses acréscimos, o transporte não contemplava mais o bairro Macedo, que voltava à estaca zero no quesito acessibilidade. A moradora aumentou o valor da passagem por duas vezes, chegando até R$15,00 ida e volta, devido ao alto gasto com gasolina. Infelizmente, há cerca de um mês, ela parou de passar todos os dias, fazendo sua rota somente às quartas-feiras, devido à situação ser inviável para ela.


Além disso, na região existem grupos de moradores destinados à oferta e procura de caronas. Então é sempre na base da camaradagem, socializando os carros individuais, que as pessoas conseguem ir e vir da região para a sede do município. Outra alternativa em casos mais extremos é a tentativa de chamada de carros de transporte alternativo, como 99 POP, que, em caso de sorte, se consegue um motorista, porém se paga entre R$20 e R$80 na corrida para o centro, a depender do horário, saindo extremamente caro para a população.


Enquanto a prefeitura vem ignorando a situação, os moradores da região de São Gonçalo do Bação, Macedo, Mangue Seco e demais permanecem com acessibilidade reduzida, sem poder ir e vir à sede do município para procurar um emprego, realizar alguns cursos ou mesmo acessar atividades de lazer, cultura e esporte que, em sua maioria, são disponibilizadas nas regiões centrais. Mesmo que toda a cidade esteja caminhando para a volta de suas atividades presenciais, e em Onda Verde, parece que a prefeitura não se lembrou que existem moradores que necessitam de seus serviços e segue tapando os olhos para a situação de mobilidade urbana em Itabirito.


Duvidoso é que o Sr. Prefeito Orlando Caldeira, bem como seu secretariado, não precisam tomar lotação para ir e vir destes locais! Por isso o descaso, a falta de empatia, bem como o atentado aos princípios da adequação e regularidade do serviço público.

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