Minas Gerais passa, hoje, pelo seu pior momento desde o início da pandemia de Covid-19. No estado, foram registradas 1000 mortes somente nos últimos dois dias (dados referentes à 7 e 8 de abril), além disso há também o registro de UTI'S e enfermarias lotadas e com pessoas à espera de atendimento. Neste cenário caótico, é que ingressamos (tardiamente, sempre bom lembrar) na "onda roxa" do Plano Minas Consciente, proposta criada e implementada pelo governo do estado de Minas Gerais, por meio das secretarias de Desenvolvimento Econômico (Sede) e de Saúde (SES).
A fase da “onda roxa” do Minas Consciente prevê a adoção de medidas mais restritivas, uma vez que as fases anteriores não apresentaram resultados e acabaram caindo no descrédito da população mineira. Mas, apesar da adoção de medidas mais restritivas nos últimos dias, assim como foi durante todo período pandêmico no estado, o governador Romeu Zema (Novo) e seu “comitê” de enfrentamento à pandemia, para garantir os interesses das grandes mineradoras, mantiveram a mineração como atividade essencial.
No estado de Minas Gerais, a mineração tem sido a grande responsável pela interiorização e disseminação de Covid-19 nos territórios. Nos municípios onde a atividade de exploração mineral se desenvolve, como Ouro Preto, Mariana, Itabirito, Barão de Cocais, Nova Lima, Itabira, entre outros, os números de infectados e mortos por Covid-19 tem crescido exponencialmente quando comparados às regiões onde não há a presença da mineração, considerando também que são cidades de pequeno ou médio porte.
Enquanto cidades inteiras fecharam seus comércios, paralisaram suas atividades consideradas como não essenciais e passaram a restringir a circulação de pessoas, em um esforço conjunto para reduzir a contaminação e propagação do coronavírus, a atividade minerária se mantém em pleno funcionamento, colocando em xeque todo esse esforço coletivo. Nesse sentido, manter a mineração em pleno funcionamento, mesmo durante fase da onda roxa, é colocar o lucro de uma minoria acima da vida e do bem estar de toda uma população.
É válido ressaltar que, para o funcionamento da atividade, as mineradoras têm lotado ônibus com seus funcionários, deslocamento esse que se dá, muitas vezes, ao longo de várias cidades, além dos ambientes compartilhados como refeitórios, salas, cabines e veículos. Enfim, um cenário propício para que o vírus circule livremente.
Se colocam a vida das cidades que as recebem em risco, o que dizer dos seus trabalhadores? Os trabalhadores da mineração têm vivido com o risco eminente de contágio e com o medo diário de transmitir aos seus familiares. Não bastasse isso, os trabalhadores de empresas terceirizadas vivem situação ainda pior: com menos fiscalização e, geralmente, vindos de outras localidades, são alocados pelas mineradoras em casas com 10, 15, 20 pessoas. Que tipo de protocolo permite tal situação? Como fazer isolamento de uma dessas pessoas caso venha a contrair o vírus? São perguntas que deveriam ser feitas ao governador Romeu Zema e a todos os prefeitos que deixam isso acontecer e não se preocupam com a vida da população.
A mineração é parte importante da economia mineira e todos nós sabemos disso. Mas não podemos negligenciar vidas, não podemos pedir a todos os setores econômicos que façam um esforço tremendo em favor das vidas, enquanto as empresas mineradoras seguem normalmente o seu funcionamento. O governo Zema pede ao pequeno comerciante que feche suas portas temporariamente, sem oferecer nenhum apoio, mas permite que a Vale S.A, empresa que lucrou mais de US$4,9 bilhões em 2020, mantenha-se em pleno funcionamento.
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