Moradores de Antônio Pereira convivem com medo e adoecimento causado por barragem da Vale
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Estudo conduzido por pesquisadores da UFOP revela impactos da mineração na saúde mental e na identidade de comunidades próximas à barragem do Doutor , no distrito de Antônio Pereira
José Luiz e Redação | Tribuna Popular. 27 de junho de 2025
Muitas vezes, os efeitos negativos da mineração só ganham visibilidade em situações de grandes desastres, como os de Mariana e Brumadinho. No entanto, os impactos são mais frequentes e cotidianos do que se imagina — por exemplo, os danos à saúde mental das populações que vivem nas proximidades de mineradoras e barragens, como é o caso dos moradores de Antônio Pereira.
A dissertação de mestrado em Engenharia Ambiental intitulada” Impactos socioambientais da mineração : o vínculo entre saúde, de autoria de Leonardo Henrique de Paiva Almeida, mostra que os impactos da mineração vão muito além da contaminação ambiental: atingem diretamente a saúde mental dos moradores, provocando medo, ansiedade e sensação de abandono.
A partir de relatos de moradores e análise de reuniões e eventos locais, o trabalho identificou que o constante risco de rompimento da barragem do Doutor, localizada no distrito de Antônio Pereira, gera uma ameaça invisível, mas sempre presente. Essa insegurança tem efeitos profundos no cotidiano das famílias: há casos de insônia, estresse crônico e até abandono do próprio território por parte de moradores mais fragilizados. “É como se o lar deixasse de ser um lugar de segurança e se transformasse em uma fonte de medo”, explica o pesquisador. Ele utiliza o conceito de “senso de lugar”, da geografia fenomenológica, para mostrar como a relação dos moradores com seu espaço foi rompida — o que antes era sinônimo de acolhimento e pertencimento, hoje é fonte de insegurança.
Outro aspecto importante salientado pela pesquisa é a vagueza na definição sobre quem é ou não considerado “atingido” por barragem, o que amplifica as sensações de injustiça, fazendo com que os morador se sintam ignoradas pela empresa e pelo Estado, conforme mostrado em algumas falas de moradores, em audiência pública realizada em 29/03/2022, na cidade de Mariana, que também contou com a presença de atingidos e atingidas por barragens, além de membros de movimentos Sociais como o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).
“Porque não colocar Antônio Pereira como atingido? Muitas pessoas que moram em Antônio Pereira eram de Bento Rodrigues” (Distrito atingido pelo rompimento criminoso de uma barragem da Vale , em 2015). Outras falas evidenciam a percepção, por parte dos moradores, de uma relação de poder e superioridade da Vale, causando uma mistura de revolta e impotência:
“O agressor que determina o valor do agredido”.
“Para o Capital, era melhor que não houvesse ninguém morando nessa região. Pois, onde a gente pisa tem riqueza”.
No que se refere aos interesses exclusivamente rentistas da Vale, é fundamental sublinhar que a mineradora, entre 2019 e 2024, compartilhou com seus acionistas, na forma de dividendos, um valor 4x vezes maior do que o destinado para cumprir o acordo com os atingidos pela rompimento da barragem em Brumadinho, conforme mostrado na matéria “A Mineração na lógica do capitalismo financeiro: o lucro Vale mais do que vidas”, divulgada no site do Jornal a Verdade.
Alguns efeitos listados pela dissertação são o aumento da violência em Antônio Pereira, a degradação da paisagem local, mudanças forçadas na rotina da comunidade e a ruptura com tradições e símbolos que faziam parte da vida no distrito, como evidenciado na fala a seguir de outro morador do distrito:
“dá vontade de nem viver” .
“as pessoas vão perdendo o pertencimento”.
A pesquisa conclui que é urgente repensar o modo como se avalia os impactos da mineração, para além do que é mensurável, tendo em vista que os danos subjetivos — como o sofrimento psicológico e a perda de identidade com o lugar — são ignorados pelas mineradoras e pouco reconhecidos pelo poder público. O trabalho reforça a necessidade de políticas públicas que não se limitem à compensação financeira ou à mitigação técnica dos riscos, mas que também reconheçam a importância do vínculo afetivo e cultural das comunidades com seus territórios.
Barragem de Doutor, em Antônio Pereira, gera diversos problemas para comunidade. Foto Lui Pereira/Agência Primaz
Condições dignas para o povo de Minas Gerais
A mineração, definidora para a existência de nosso estado, até hoje tem sido uma condenação histórica aos biomas, às águas e ao povo de Minas Gerais, mas não só. Esta condenação a qual nos submete a sermos vítimas de exploração colonialista e, mais tarde, capitalista-imperialista, abate também a todo o povo brasileiro e aos nossos irmãos da América Latina.
É necessário dar fim a esta cadeia de exploração! É preciso que nosso país dê condições básicas para que o povo viva. Não podemos continuar a ser um país submetido em garantir a manutenção de nossas riquezas pelo capital. A bandeira histórica da soberania se faz necessária e presente ao nosso povo. O Brasil não pode continuar a ser terra de matéria-prima para produtos industrializados no norte do globo.
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