Um dos grandes debates desse contexto pandêmico diz respeito ao ensino online: alunos/as, professores/as e demais profissionais da educação se encontram desmotivados/as. Estudantes de todas as idades reclamam que perderam o ânimo de estudar por motivos psicológicos, políticos e socioeconômicos. Na mesma proporção, surgem com frequência diversos estudos sobre a questão, sempre acompanhados de mais reclamações. Mas e o/a professor/a? Como uma categoria historicamente tão desvalorizada no Brasil está lidando com o cenário atual, extremamente agravado pelo governo do genocida que ocupa a cadeira da presidência da República?
Já ouvi algumas vezes que professor/a “só dá aula” ou que é muito fácil seguir a profissão, mas confesso que nada disso soou, para mim, tão cruel quanto ouvir que nós não estamos trabalhando na pandemia. Afinal, se tem algo que professor/a faz é trabalhar! Parece que grande parte da população brasileira não sabe que somos pagos/as por horas/aula e que, todo o tempo que demoramos para preparar nossas aulas não é remunerado. Fora a correção de provas, trabalhos, atendimentos, elaboração de planejamentos e por aí vai. Isso mesmo, nada remunerado.
Ah! Parece que não sabe também que o nosso trabalho não só se tornou ainda mais precarizado na pandemia, mas que sua carga horária duplicou e tivemos que nos desdobrar para adequarmos às novas linguagens impostas pela conjuntura. Muitos de nós investiram tempo e dinheiro em aparelhos tecnológicos para melhorar não só nossas condições de trabalho, mas também o processo de aprendizagem de nossos/as alunos/as. O salário? Para muitos de nós diminuiu ou continua o mesmo. Aumento? Não, estamos no Brasil e, como já disse, não costumam se importar com isso por aqui. Vale ressaltar também que o nosso país enfrenta taxas altíssimas de desemprego e que vários educadores/as compõem essas estatísticas.
Também é digno de nota que a educação brasileira sofre cortes de gastos desde 2014, estes aumentaram consideravelmente a partir do golpe de 2016 e estão presentes com frequência absurda desde o início do mandato de Jair Bolsonaro. A crise da educação é um projeto do governo atual e de muitos outros que se deram em momentos anteriores. Eu sempre vi a educação como instrumento de emancipação política e social, seja como aluna e agora, professora de história, porém, às vezes, sinto que sou vencida pelo cansaço que é sim físico, mas também mental. Quem cuida da saúde psicológica do/a professor/a e de toda a comunidade escolar? E das mães que são professoras e precisam enfrentar as dificuldades do ensino remoto, além das tarefas de reprodução social?
Outro ponto a ser abordado é a NÃO ASSISTÊNCIA dos que ocupam cargos políticos aos estudantes, principalmente aos de classes menos favorecidas. A evasão escolar se faz cada vez mais presente, a quantidade de alunos/as sem acesso à internet e computador é imensa. Estamos falando do Brasil, né? E a fome? A merenda fornecida pela escola era, muitas vezes, um dos poucos alimentos ingeridos ao dia por vários/as estudantes. O que desanima muita gente de estudar não é o ensino online em si, mas todas as desigualdades socioeconômicas que ele evidencia. Quem pensa em estudar com a geladeira de casa vazia?
Todas essas questões interferem no processo de aprendizagem do/a estudante e consequentemente nas ações tomadas pelo/a professor/a durante o ensino remoto. Como já dito, a precarização da educação brasileira e todos os grupos que ela engloba é um projeto político; lutar contra a fome, o desemprego, a covid e a extrema direita que ocupa o poder é melhorar as condições de vida de milhões de estudantes e de suas famílias e aliviar a sobrecarga de trabalho de diversos/as professores/as que quando reivindicam seus direitos recebem bala da polícia, deboche e descaso municipal, estatal e federal. Encerro a reflexão com uma frase de Paulo Freire, grande inspiração para a luta, “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Não se constrói uma sociedade justa sem educação.
Lutemos!
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